Frente à frente com a violência doméstica. Foi assim que a Drª Carla Goes saiu da sua zona de conforto. Republicana e dermatologista, ela recebeu uma amiga no seu consultório que buscava alguns tratamentos para diminuir o inchaço no olho que surgiu após uma queda. Claramente ela era uma vítima, como tantas outras mulheres no país. Com vergonha, só queria resolver o problema sem dar mais detalhes.
Após o atendimento Carla pensou em quantas outras vítimas viviam o mesmo tormento e não podiam pagar por reparos estéticos.
“O olho estava com um hematoma enorme e o lábio cortado. Ela é uma amiga e não teve coragem de me falar que havia sido vítima de violência doméstica”, explicou Dra. Carla. Verdadeiramente presas em suas cicatrizes e hematomas, as vítimas de violências físicas convivem não somente com o agressor, mas também com uma constante guerra contra o espelho. As marcas da violência relembram, na maioria das vezes, um período sombrio que elas fazem questão de esquecer.
Um Novo Olhar
Na luta contra essas cicatrizes – físicas e psicológicas, a republicana criou o projeto “Um novo olhar”. Especialista em tratamento de lasers e técnicas cirúrgicas que diminuem o inchaço e hematomas pós-cirurgias plásticas, ela atende gratuitamente mulheres que são vítimas de violência doméstica. Os machucados que tendem a sair naturalmente em 10/15 dias, com o tratamento eles levam quatro dias para cicatrizarem e começarem a sumir.
Ela explica que o projeto não maquia a agressão, mas sim devolve a autoestima para a mulher, com o intuito de fazer essa vítima retornar para sua vida ainda mais forte para se livrar da agressão. “O que nós queremos é dar condições para a vítima se sentir confortável para voltar à sociedade o mais rápido possível. Nós sabemos que as agressões costumam atingir o rosto, pois os agressores querem mostrar poder. Assim, ele destrói completamente o que resta da autoestima da mulher. Como ela se reergue assim para sair daquela situação? ”, explica.
Acompanhamento e denúncia – Para conseguir o tratamento com a republicana, os critérios são dois: ter um acompanhamento psicológico – fase fundamental para vítimas, e comprovar, por meio de boletim de ocorrência, que a denúncia aos órgãos competentes foi realizada. As pacientes da Dra. Carla, assim como muitas que são vítimas de qualquer tipo de violência, querem ser abraçadas. Além da reconstrução facial, a republicana estabelece esse vínculo tão necessário com quem é atendida. “As vítimas costumam estar muito fragilizadas, com medo. Precisam de um carinho, cuidado, não necessariamente físico. Elas necessitam ver que alguém se importa”, finaliza.
Texto: Gabbriela Veras/Ascom Mulheres Republicanas Nacional
Foto destaque: Agência Brasil
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